Turma da Mônica — Laços é um filme baseado na graphic novel de mesmo nome, de Lu e Vitor Caffagi, que gira ao redor do universo e personagens criados por Maurício de Souza. Roteirizado por Thiago Dotorri e dirigido por Daniel Rezende, o filme conta a história de como Cebolinha, Mônica, Cascão e Magali se unem para tentar resgatar Floquinho, o cão de Cebolinha, que foi sequestrado por um homem misterioso. Pela primeira vez uma aventura desta turma tão querida está indo para os cinemas em uma versão “live-action” (ou seja, ao vivo, sem o auxílio de animações) o que é uma empreitada um tanto arriscada já que os quadrinhos de Maurício de Sousa são publicados desde os anos 1960 e fazem parte de um imaginário cultural de diversas gerações de brasileiros. Mas, para a felicidade dos fãs, o filme foi capaz de fazer justiça às HQs não só respeitando a essência de seus personagens principais e a natureza das histórias originais, como trazendo citações a diversos núcleos de personagens das produções de Maurício de Sousa, como easter eggs (citações escondidas para os fãs ficarem caçando). É um filme doce e inocente, com uma história bem-pensada e tecnicamente bem feito. No entanto, é necessário refletir se a caracterização extremamente fiel a narrativa e ao visual dos quadrinhos é benéfica para o filme, uma vez que sem dúvida traz nostalgia a qualquer espectador que conheça a Turma da Mônica, ou se isto se transforma em algo que limita o espaço criativo dos diretores do filme bem como a capacidade de atualizar as histórias das HQs. O elenco infantil se mostrou talentoso, eles contracenam muito bem uns com os outros e ficaram perfeitos em seus personagens. Novamente não necessariamente o fato dos personagens serem caracterizados exatamente como são nos quadrinhos é algo benéfico para o filme, principalmente porque o roteiro não desenvolveu os personagens para além dos estereótipos: Mônica continua sendo uma valentona que usa a violência como punição, da mesma forma que Cebolinha jamais aprende que é errado provocar os outros através de xingamentos sobre a forma física da pessoa. O roteiro do filme até que poderia ter promovido um crescimento destes personagens (afinal, trata-se de um filme pertencente ao gênero “coming of age”, filme de amadurecimento), mas não é isto que ocorre, talvez porque, a equipe criativa esteja mais preocupada em promover a nostalgia no público. Apenas o Cebolinha atravessa uma transformação ao longo do filme e todos os personagens voltam a viver seus estereótipos ao final do longa. Seria de se esperar que o primeiro “live-action” da histórica Turma da Mônica tivesse a personagem título como protagonista, o que estaria muito em dia com as atuais discussões de protagonismo feminino nas telas e por trás das câmeras, porém, novamente, não é isto que ocorre: o filme é liderado pelo Cebolinha e o tempo todo vemos Mônica como um suporte para a história do garoto — isto até pode ser justificado uma vez que a história foi criada com base em uma HQ onde o protagonismo de Cebolinha faz sentido uma vez que existem incontáveis histórias onde cada membro da Turma é o protagonista; mas este não é um bom argumento já que eles poderiam ter adaptado qualquer outra história onde Mônica fosse protagonista, ou mesmo criado uma história completamente nova. Se o filme tinha como propósito fazer o público relembrar sua infância lendo os gibis e se deleitar com isto, então ele cumpre seu propósito muito bem. No entanto, se até o momento podemos acusar os recorrentes “live-actions” da Disney como Cinderela, A Bela e a Fera, Mogli e O Rei Leão de serem meras cópias dos clássicos de animação, sem acrescentar novas visões (mais atuais e condizentes com nosso tempo) para a história, o mesmo pode ser dito sobre Turma da Mônica — Laços. Talvez a melhor coisa do filme seja o fato de que ele traz de volta a atenção do público para filmes infantis e juvenis produzidos pelo cinema nacional. Apesar de já ter sido bastante explorado, este gênero ainda não teve devido reconhecimento e raramente vemos uma produção assim chegar aos cinemas, apesar de ser comercialmente vantajoso. Com sorte, Laços pode inaugurar uma nova onda de filmes infantis no Brasil. |